Em dias de lua cheia, não são precisos os faróis para vermos a estrada.Não há
névoa, nem nuvens sequer.A transparência é total.Defronte, as luzes das Flores
tornam o estreito mais próximo, mais íntimo e mais cúmplice.
O coro dos
garajaus torna-se aragem quente e música de intimidades.O universo parece
concentrar-se na ilha, enchendo-a de ecos, de vibrações, que entram nos corpos,
nas almas.
O Corvo tudo vigia, ouve, adivinha, partilha, silencia e
oculta.É sábio,É cúmplice.É esquivo.É ofegante.Viver nele exige ambiguidade e
lentidão.
O colectivo não lhe anula o individual, o estabelecido não anula
a diferença.Há lugar para todos.
A ilha é uma câmara de murmúrios, uma
sinfonia de andamentos pausados e pousados.Fala-se, ama-se, desanima-se,
sofre-se, mas também se ri e se sonha.
Vacas bordejam o caminho que sobem a
montanha dando à paisagem vislumbres únicos.
O mar isola, é certo, mas nem
por isso deixa de ser uma estrada.Não compartilha-mos da distorção conceptual
que transforma o corvino num ilhéu isolado sobre si próprio.No entanto, o
isolamento não é necessariamente mau.A insularidade tem o duplo significado de
isolamento e de vida de relação.
No Corvo vive-se e sente-se tudo isto numa
maneira única.Só quem cá vive ou viveu percebe.
É o Corvo e as suas
cumplicidades!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário