segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Convento dos Franciscanos e Igreja de Nossa Senhora da Conceição



Este Convento e a Igreja de Nossa Senhora da Conceição localizam-se na freguesia e concelho das Lajes do Pico, na ilha do  Pico.
   O conjunto é composto pelo antigo convento da Ordem dos Frades Menores com igreja anexa, datado dos séculos XVII/XVIII. Atualmente encontra-se em estado de conservação razoável, nele se encontrando instalados os serviços da Câmara Municipal. da Polícia de Segurança Pública e das Finanças.
   De acordo com a tradição local, uma senhora de nome Mor Pereira fundou, numa propriedade que possuía nos limites da vila das Lajes do Pico, uma ermida sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição para cobrir o local onde havia sido sepultado o pai, falecido em condições que impediam o corpo de ter sepultado em solo sagrado.
   Posteriormente, em  1629, junto a essa ermida, foi fundado o convento dos franciscanos.
   Um século mais tarde, em 1768, o convento foi ampliado. Uma nova igreja, construída pelo lado norte, transformou-se em um dos mais belos templos da ilha, onde se destacavam os trabalhos em talha dourada nos retábulos, possuindo já os ornamentos de praxe: vasos sagrados, lâmpada de prata, coroas e resplendores em todas as imagens.
   No século XIX em uma noite de Fevereiro de 1830 um violento incêndio consumiu o interior da igreja e todo o seu precioso recheio. Dois anos mais tarde, os conventos foram extintos no país pelo Decreto de 17 de Maio de 1832.
   As dependências do convento foram entregues interinamente pela Junta de Crédito Público à Câmara Municipal, em 3 de Janeiro de 1840 para nelas serem estabelecidas as Repartições Públicas.
   A igreja da Conceição serviu de paroquial desde 1902, conforme Provisão do Governador do Bispado datada de 16 de Janeiro daquele ano, funções que exerceu até à inauguração da nova Matriz (28 de Maio de 1967). Bastante danificada pelo sismo de 1998, sofreu a seu turno, também, intervenção de consolidação e restauro. Atualmente, nela está instalado o Museu Missionário.
   O conjunto do convento e da igreja, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição, erguem-se em plano superior em relação à estrada regional, sendo o acesso ao adro feito por escadas.
   O conjunto encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público pela Resolução n.º 28/80, de 29 de Abril.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ilha de S.Miguel - Mosteiros



A freguesia dos Mosteiros pertence ao concelho de Ponta Delgada.Tem 8,98 km² de área e 1 123 habitantes (2011) e uma densidade populacional de 125,1 hab/km².
   Está a uma altitude de 16 a 30 metros acima do nível do mar, sendo uma espécie de grande fajã.
   O restante da freguesia é bem mais elevado (pico e lombas) com altitudes na ordem dos 140 a 190 metros. Mosteiros tem uma estrada que liga Ponta Delgada e Ribeira Grande.
   As suas  atividades principais são a pesca e a agricultura. É banhada pelo Oceano Atlântico a oeste, possuindo um porto de pesca, uma praia de areia escura, aonde desaguam duas ribeiras, provenientes das cumeeiras, uma delas dividindo a freguesia a meio; e piscinas naturais designadas por Poço da Pedra.
   A zona balnear de "caneiros" é muito procurada para banhos de "mar e algas". Tem montanhas a leste, genericamente chamadas de cumeeiras, que fazem parte da Caldeira do Vulcão das Sete Cidades.
   Tem  uma escola, A Escola Comendador Ângelo José Dias do 1º ciclo; uma igreja dedicada a evocação de Nossa Senhora da Conceição, padroeira tanto da freguesia como de Portugal, cuja imagem de encontra na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, uma capela dedicada a São Lázaro, quatro impérios do Espírito Santo e duas filarmónicas: Banda Fundação Brasileira, fundada em 1863 e a Banda Harmónica Mosteirense, fundada em 1883.
   E uma freguesia muito procurada no verão, quer por residentes na ilha quer por turistas nacionais e muitos estrangeiros, sendo fácil arranjar alojamento em casas de campo com site na internet. Local ideal para quem gosta de costa e mar, quer para banhos quer para pesca.
   O polvo assado, as cracas e o peixe fresco são três pratos considerados típicos da localidade dada a forma de os confeccionar.
   A sua maior festa realiza-se no terceiro Domingo de de Agosto, festa religiosa, com procissão. E habitual haver também durante o verão festas desenvolvidas pelas duas bandas locais. As domingas do Espírito Santo regressam todos os anos a seguir à quaresma, que nesta freguesia têm uma tradição e um culto muito forte.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ilha do Pico - Convento de São Pedro de Alcântara.



O Convento localiza-se no Cais do Pico, concelho de S.Roque. A sua história é rica e como quase todos remonta à imensa fé do povo Açoriano.
   A estrutura remonta a um voto formulado em meados do século XVII por um natural de São Roque do Pico, Sebastião Ferreira Pimentel. Quando em trânsito para Lisboa, a embarcação em que viajava foi atacada por piratas. Em pânico, tripulação e passageiros viram a sua nau ser envolvida por uma nuvem densa, tendo Ferreira Pimentel afirmado ter visto na enxárcia domástrio principal, nesse momento, uma figura feminina radiosa, de rara beleza.
   Em agradecimento pela graça alcançada, os pais de Ferreira Pimentel, Sebastião Ferreira de Melo e Margarida Vieira, fizeram erguer em 1658, no Cais do Pico, uma pequena ermida sob a invocação de Nossa Senhora do Livramento.
  No século seguinte, a construção do Convento da Ordem dos Frades Menores, (Franciscanos), sob o comando de Frei Inácio do Desterro absorveu essa primitiva estrutura. O convento nasceu da necessidade de albergar os frades franciscanos das Lajes do Pico que, na sequência da erupção vulcânica de 1 de Fevereiro de 1718, ocorrida na localidade de Santa Santa Luzia, tinham vindo socorrer a população de São Roque.
   Conforme Silveira Macedo, o Convento e a atual igreja foram iniciados a 19 de Outubro de 1721, sendo esta última consagrada na noite de Natal de 1724. As obras só estariam concluídas, entretanto, em 1726. Frei Bartolomeu Ribeiro acredita que, em 1740, a comunidade ainda não tivesse crescido.
   Após a saída dos frades este convento esteve ao serviço do estado e serviu com estabelecimento prisional, tribunal, repartição de finanças, sala de espetáculos (cinema), sede de associações culturais e desportivas e albergou a Câmara municipal de São Roque do Pico. Atualmente (2010) constitui-se numa Pousada da Juventude que faz parte da Rede de Pousadas da Juventude dos Açores.
   Encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Públicopelo Decreto n.º 129/77, de 29 de Setembro.

domingo, 18 de novembro de 2012

Ilha do Faial - Lenda da Coroa Real de Cedros

No tempo do domínio castelhano e mesmo já anteriormente, os Açores eram, de certa maneira, esquecidos e os piratas aproveitavam para, à sucapa e a coberto da noite, atacar e roubar as ilhas, principalmente as mais desprotegidas.
Duma vez, um grupo de piratas, comandados pelo seu rei mouro, atacou a ilha do Faial. Mas os faialenses deram-lhe luta e conseguiram vencer e fazer com que os piratas abandonassem a ilha sem fazerem as pilhagens habituais. Ao fugir, o rei esqueceu a coroa. Era magnífica, em prata, enfeitada ao redor com ramos lavrados.
Já em viagem o rei mouro deu por falta da coroa e lembrou-se que a tinha deixado na ilha que tinham saqueado. O barco rumou novamente em direção ao Faial em busca da preciosa coroa.
Disfarçadamente, os piratas procuraram por onde puderam, indagaram junto de algumas pessoas, mas nada encontraram e o rei mouro partiu em direção às distantes terras dos infiéis, abandonando a ilha para nunca mais voltar.
Ora uma mulher dos Cedros, que tinha encontrado e guardado a coroa, ao saber que os piratas estavam de volta à procura do símbolo real, tratou de escondê-la o melhor possível. Não vendo sítio mais seguro e, como era uma coroa aberta, sem hastes, do feitio de um anel, enfiou-a numa perna como quem enfia uma aliança e aí a conservou até ter a certeza que o rei se fizera ao mar, desistindo para sempre do precioso objecto. 
Passado algum tempo a perna da mulher inchou e, quando quiseram tirar a coroa ela não saía. Puxaram de um lado, puxaram do outro, lavaram a perna com água e sabão de cinza para a pele ficar mais escorregadia, mas a coroa não saiu. Não vendo outro jeito, não tiveram remédio senão cortar a coroa para a poderem tirar. Depois soldaram-na com muito cuidado e o riquíssimo objecto ficou para a freguesia e passou a ser usado nas festas do Espírito Santo. Tinha de altura 13cm e continha engastada uma gema de cor da qual se
ignora o verdadeiro valor.
Passados anos, com medo que aquela coroa tão rica desaparecesse ou se estragasse, mandou-se fazer uma imitação para ser usada nas festas, mas a antiga coroa do rei mouro continua a ser guardada todos os anos em casa do mordomo do Espírito Santo e pode ainda ver-se, perfeitamente, num dos lados, o lugar onde foi cortada e soldada para poder sair da perna da mulher que a tinha guardado cautelosamente.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Lendas -História das Sete Caldeiras da Ilha das Flores



  Havia um homem da ilha das Flores que tinha um filho de nome João. O rapaz era muito sonhador, simples e bom, como tinha fama de ser toda a gente das Flores.    Um certo dia o João ia pelo caminho fora, carregado com bilhas de água.
   Tinha-a ido buscar longe para ser usada em casa. Ia sozinho e a sonhar, um pé na terra e o outro na lua, como é natural em todos os rapazes e crianças da sua idade. Encontrou, a certa altura, uma poça de água no caminho e disse em voz alta, para si mesmo:
     - Dizem que noutros lugares há lagoas e caldeiras muito lindas. Aqui na minha ilha não há. Vou mas é fazê-las!
    Pegou numa das bilhas de barro que trazia cheias de água e despejou-a no chão. Com a facilidade com que tinha sonhado em fazer as lagoas, logo se formou a primeira caldeira.
   O rapaz deu pulos de alegria e pensou: "Sempre que encontrar poças de água, vou fazer o mesmo!" 
   Ali à esquerda estava outra poça mais funda e o rapaz, com confiança, vazou outra bilha de água. Formou-se outra vez uma lagoa, muito, muito funda.
   Teve que ir de novo encher as bilhas. Levado pelo sonho, foi andando, andando, pela ilha, tendo encontrado ao todo sete poças de água, onde foi deitando água.
    Assim se foram formando as Caldeira Funda das Lajes, onde poderia flutuar um grande paquete. Há outras mais baixas, como a Caldeira Rasa, cujas margens são muito lodosas e perigosas. As restantes lagoas que o rapaz foi formando ao encontrar as poças de água são a Caldeira Branca, a Seca, a Comprida, a Funda e a Lomba. Tornaram-se todas muito diferentes, mas muito bonitas, de águas limpas e transparentes, como foi desejo do rapaz que as sonhou e as fez.
   

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Ilha de S.Miguel freguesia de Rabo do Peixe


Rabo de Peixe pertence ao concelho da Ribeira Grande, com 16,98 km² de área e 8 866 habitantes (2011).
   Com uma área geográfica de 16,98 km², onde se inclui o lugar de Santana a Vila de Rabo de Peixe confronta com o Oceano Atlântico, a Norte, com as freguesias das Calhetas e Pico da Pedra, a Este, com a Ribeira Seca e Santa Bárbara, a Oeste, e com o Livramento(Ponta Delgada) e Cabouco (Lagoa), a Sul.
   Vive essencialmente da pesca e da agricultura, havendo indústrias de construção civil e de transformação de peixe como principais empregadores.
   Não se sabendo ao certo a data ou como teria sido povoada esta localidade, aponta-se que por volta do século XV Rabo de Peixe, conjuntamente com a Ribeira Grande, constituía freguesia.
   Esta localidade é assim chamada devido à semelhança que uma das suas pontas de terra tem com uma cauda de peixe, ou como diz Gaspar Frutuoso (cronista açoriano, século XVI), por em tempos ali ter sido encontrado o rabo de um grande peixe desconhecido.
   Saliente-se ainda que o lugar de Santana, extensa planície, foi transformado em campo de aviação militar durante a segunda guerra mundial (1939/45), passando, em 1946, para aaeronáutica civil com a instalação do primeiro aeroporto da ilha.
   Rabo de Peixe é uma vila com fortes raízes na tradição da Ilha de São Miguel, possui uma cultura assente nas suas Festas Tradicionais, no seu Folclore, na sua Música e no seu vasto Património Arquitectónico.
   As Festas Religiosas são extremamente valorizadas pela população local, e representativas da cultura desta vila, atraindo inúmeros visitantes não residentes na localidade. Estas iniciam-se logo no primeiro dia do ano, com a Festa do Senhor Bom Jesus, seu Santo Padroeiro. Tal como em toda a ilha de S.Miguel, existe uma devoção especial pelo Divino Espírito Santo, sendo famosos os cortejos e carros alegóricos referentes a estas Festas. A Festa da Bandeiras é uma das mais expressivas manifestações destas comemorações. Esta celebração engloba duas formas, a Bandeira da Beneficência, ou as "Festas da Beneficência" e a Bandeira da Santíssima Trindade, designada pelo povo "Festas da Caridade". Acompanhando estas duas Bandeiras, ocorrem as famosas "Despensas" e "Bailinhos", duas danças oriundas de Rabo de Peixe.
   Ao longo de todo ano vão se realizando outras procissões, como a procissão de São Sebastião, realizada no penúltimo Domingo do mês de Janeiro, a do Senhor dos Passos (via sacra pública), realizada no terceiro Domingo anterior ao Domingo de Páscoa, a dos Ramos, realizada no Domingo anterior ao Domingo de Páscoa, a do Senhor Morto, realizada na Sexta-Feira Santa à noite, a do Senhor Ressuscitado, realizada no Domingo de Páscoa, a dos Enfermos, realizada no primeiro Domingo após a Páscoa e por fim a procissão de São Pedro Gonçalves, realizada no sexto Domingo a posterior ao Domingo de Páscoa.
   Rabo de Peixe possui também duas filarmónicas:A Sociedade Filarmónica Lira do Norte, fundada em 1867, cuja padroeira é Santa Cecília, e a Filarmónica Progresso do Norte, fundada em 1888 e tem como padroeira Nossa Senhora da Conceição Todos os anos, participam nas procissões realizadas em Rabo de Peixe, mas também participam em várias procissões da ilha e até no estrangeiro.

sábado, 10 de novembro de 2012

Lenda do São Martinho.

   Segundo consta Martinho era um valente soldado romano que estava a regressar da Itália para a sua terra, algures em França.
   Montado no seu cavalo estava a passar num caminho para atravessar uma serra muito alta, chamada Alpes, e, lá no alto, fazia muito, muito frio, vento e mau tempo.
    Martinho estava agasalhado normalmente para a época: tinha uma capa vermelha, que os soldados romanos normalmente usavam. 
   De repente, aparece-lhe um homem muito pobre, vestido de roupas já velhas e rotas, cheio de frio que lhe pediu esmola.
    Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar. Então, pegou na espada, levantou-a e deu um golpe na sua capa. Cortou-a ao meio e deu metade ao pobre.
   Nesse momento, de repente, as nuvens e o mau tempo desapareceram. Parecia que era Verão! 
   Foi como uma recompensa de Deus a Martinho por ele ter sido bom. 
   É por isso que todos os anos, nesta altura do ano, mesmo sendo Outono, durante cerca de três dias o tempo fica melhor e mais quente: é o Verão de São Martinho. 
   
   
   

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Ilha Das Flores - História da Vila de Santa Cruz.

A vila de Santa cruz, a sede do concelho de Santa Cruz das Flores, e é composta pelos lugares de Vila, Fazenda de Santa Cruz (ou Fazenda d’Além), Monte, Vales e Ribeira dos Barqueiros. O principal centro urbano é o lugar da vila, hoje anichado entre a pista do Aeroporto das Flores, que cruza de costa a costa a fajã onde o povoado se situa, e o litoral leste da ilha. Nos seus dois extremos têm dois pequenos portos, o Porto das Poças, a sul, ainda usado para a pesca e para as ligações marítimas à ilha do Corvo, e o Porto do Boqueirão, a norte, uma antiga estação da baleação , cuja rampa é hoje, em conjunto com a antiga Fábrica da Baleia do Boqueirão, parte do Museu das Flores. Existe ainda o pequeno porto de São Pedro, hoje anichado sob o extremo norte da pista do aeroporto.
   Sendo a principal povoação das Flores e sede da maioria dos serviços administrativos e económicos localizados na ilha, a vila de Santa cruz é hoje um moderno centro de serviços, com a maioria da sua população empregue no sector terciário da economia. Ainda assim, graças à riqueza das pastagens da sua zona interior, a agro-pecuária, com destaque para a bovinicultura leiteira, ocupa um lugar ainda relevante na produção de riqueza e na ocupação de mão-de-obra. Para além daquelas atividades merece referência a hotelaria, a prestação de serviços diversos, as pescas, as oficinas de reparação automóvel, a construção civil, o comércio, a indústria de lacticínios e a restauração.
   Com a industrialização da produção de manteiga, que se exportava enlatada com destino a Lisboa, a produção de lacticínios teve um grande surto de desenvolvimento, provocando atritos entre os industriais do sector e entre estes e os produtores de leite, dos quais resultou a fundação de múltiplas pequenas cooperativas, designadas por sindicatos agrícolas. O desenvolvimento dos Sindicatos Agrícolas Florentinos , liderado pelo padre florentino José Furtado Mota, foi um dos mais interessantes movimentos sociais açorianos do século XX , desencadeando um conjunto de conflitos que ficou conhecido como a guerra da manteiga. O grande desenvolvimento dos lacticínios fez decrescer a produção de cereais, pois as pastagens passaram a render mais que as terras de semeadura.
   Dada a sua centralidade e o impacte que durante a fase crítica da emigração açoriana a Base Francesa das Flores teve, a vila de Santa Cruz foi o único povoado florentino que não sentiu o impacto do fenómeno migratório de meados do século XX. Nas outras povoações da ilha, o número de habitantes reduziu-se para metade, ou menos, enquanto que na vila se manteve. Tinha 2 100 habitantes em 1940 e tem cerca de dois mil atualmente.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Ilha Terceira - Lenda da Lagoa do Negro.



A Lenda da Lagoa do Negro é uma tradição da ilha Terceira.Refere-se à  origem do nome da Lagoa do Negro, junto à Gruta do Natal.
   Segundo a lenda, há alguns séculos existia uma família nobre na Terceira que tinha, como era costume na época, escravos negros. A filha do morgado, habituada a receber as ordens do pai que eram compridas de forma inquestionável por todos, aceitou com naturalidade um casamento imposto por conveniência para a união de terras e aumento do poder.
   Era um casamento sem amor mas, por boa educação e honestidade, ela submetia-se ao marido. No entanto, a morgada tinha um amor proibido socialmente inaceitável por um escravo negro, que lhe retribuía o sentimento.
   Um dia o escravo negro falou com a sua amada e, juntos, chegaram à conclusão que o seu amor era impossível no mundo em que viviam. Só poderiam viver juntos se fugissem. No entanto, o marido da morgada tinha ordenado a uma das aias da esposa que a seguisse por todo o lado. Tendo ouvido a conversa entre a morgada e o escravo, esta informou o amo, que ordenou aos seus capatazes que prendessem o escravo.
   Ao ouvir o ladrar dos cães de caça ao longe, e sabendo que não era dia de caçada, o escravo desconfiou que andavam à sua procura e pôs-se em fuga pelos campos, em direção ao interior da ilha. Após um dia e uma noite em fuga, caminhando por montes, vales e difíceis veredas, o fugitivo cansado e sentindo os cavalos já próximos, não tinha mais forças para correr ou sequer andar. Sem ter onde se esconder, resolveu parar e por ali ficar, abandonando-se à sua sorte.
   Começou a chorar, e as suas lágrimas rapidamente se multiplicaram e fizeram nascer uma linda lagoa à sua frente, aninhada ao lado de uma colina arborizada. Quando se apercebeu da lagoa, os cavalos já estavam quase sobre ele. Não tendo mais para onde fugir, atirou-se da colina para as águas escuras e serenas da bela lagoa, onde se afogou.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

A tradição do "Pão por Deus"

“Pão-por-Deus, por alma dos seus”. Neste dia 1 de Novembro, era este o pregão nas ruas da gente pobre que sempre fomos. Não é uma tradição açoriana, já que terá sido trazida pelos primeiros habitantes e reconhecem-se as suas origens em vários pontos do Continente. O que se sabe é que o “Pão-por-Deus” ganhou contornos especiais nas ilhas, fruto do isolamento, das fomes e dos cataclismos e daqui partiu para outras paragens há quase 300 anos, como acontece em Santa Catarina na Brasil.
   Começou por ser um peditório pelas almas, para se tornar mais tarde, um dia de partilha, do pouco que havia e de que tudo se dava. Dar um pão pelas almas, nesta altura do ano, era como que fazer o regresso de memórias e dores, despejadas do alto das torres que não se cansavam de repetir os “sinais” a lembrar que “as misérias deste mundo um dia passam”.
   O culto dos mortos era peça fundamental no mundo dos vivos. A tradição não é estática e por isso mesmo, desde o tempo do “pão” dado anonimamente e deixado no parapeito da janela, para ser recolhido pela primeira pessoa que passasse, desde o cálice de aguardente ou do copo de vinho pelas almas, até às saquinhas de retalhos de fazenda, com castanhas e rebuçados à mistura, vai uma grande distância.
   “Pão-por-Deus” andava na boca das pessoas e congregava não só as crianças, mas gente graúda que não resistia ao sabor de um prato de milho cozido ou a um punhado de castanhas cozidas.
   Aliás, no “ Pão-por-Deus”, todos os que podiam tinham nas suas casas uma boa panela de milho cozido, de preferência branco misturado com amarelo, e as castanhas eram indispensáveis, compradas à quarta (medida de que hoje poucos se lembrarão) e cozidas para dar e comer. Rebuçados e guloseimas, tudo isto surgiu mais tarde para gáudio do rapazio e das meninas que neste dia lá iam tirando o desconsolo de todo o ano, mesmo com os rebuçados feitos em casa, com calda de açúcar e um pouco de vinagre.
   Da tradição fica a recordação das saquinhas de chita, ou de quadradinhos de fazenda que as crianças levavam e que gostavam de trazer cheias de doces ou outras guloseimas. Mais que tudo, ficava o agradecimento e para quem abria a porta, a sensação de “já termos estado no outro lado da barricada”. E recorda-se sempre a forma como se dizia:
   Abre a porta ao Pão-por-Deus
Dá-me qualquer esmola
Seja por alma dos seus
O que puser na sacola…