sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Cultura do pastel.

Pastel é o nome comum da planta Isatis tinctoria L. e do extracto fermentado das suas folhas, usado como corante azul em tinturaria e pintura. O corante era também usado em pinturas corporais e para fins medicinais. Com a introdução do índigo e do anil, caiu em desuso. A sua utilização actual limita-se à tinturaria artística e à de tecidos orgânicos (isto é produzidos sem recurso a produtos sintéticos).
   O  pastel é uma planta anual ou bienal, raramente perene, da família das crucíferas ("Brassicaceae"), nativa no leste da Europa, mas naturalizada em quase toda a zona temperada e subtropical. É muito semelhante no hábito, ramificação e aspecto das folhas ao nabo silvestre e à couve. Atinge cerca de 100 cm de altura, produzindo entre Maio e Setembro abundantes flores hermafroditas amarelas, agrupadas em pequenos cachos. As flores são polinizadas por insectos e produzem vagens que amadurecem cerca de um mês após a polinização. Pode ser cultivada em qualquer tipo de solo, embora prefira solos ligeiros. Necessita de elevada humidade para germinar e de boa exposição solar para atingir o máximo desenvolvimento, embora tolere algum ensombramento. No seu habitat natural e nas zonas onde se naturalizou aparece em zonas perturbadas de carácter ruderal e em falésias e outros locais bem drenados. As folhas são amargas e fortemente adstringentes.
   As folhas e caules são ricos no glicosídeo "indican" que, ao decompor-se por fermentação, produz indigotina, o princípio activo do corante azul índigo. O pastel-dos-tintureiros, depois de seco, é uma substância terrosa, sem cheiro ou sabor, de cor azul-escuro, ganhando um brilho violeta acobreado quando esfregado, contendo, além da indigotina, numerosas outras substâncias corantes e impurezas inertes. A indigotina é insolúvel em água, daí o seu interesse em tinturaria, dissolvendo-se apenas em ácidos fortes.
   Era cultivado em canteiro e depois replantado em regos, usando a mesma prática cultural comumente usada para as couves. A planta não podia ser cultivada com sucesso no mesmo terreno em anos seguidos, pelo que era cultivada em rotação com trigo, milho ou hortícolas. As folhas da planta do pastel eram colhidas duas vezes por ano, trituradas num engenho constituído por uma atafona movida por uma vaca ou burro, e transformadas em bolas que eram deixadas fermentar. A fermentação, que produzia um cheiro pútrido intenso, levava ao desdobramento dos pigmentos corantes contidos nas folhas. As bolas fermentadas eram depois deixadas a secar até atingirem um grau reduzido de umidade, sendo depois encaminhadas para as tinturarias.
   O pastel, a par da urzela, constituiu um dos principais produtos de exportação dos Açores no seu período inicial de colonização (séculos XV e XVI), originando um activo comércio entre as ilhas e a Flandres. Este comércio, cedo transformado em monopólio da coroa portuguesa, era tão importante que foi criado o cargo de "lealdador" do pastel com o objectivo de garantir a qualidade e o peso das bolas exportadas. Desse tempo ficaram vários traços na toponímia açoriana, sendo comuns as designações de Canada do Engenho e Engenho, referindo os locais onde se situavam as instalações de preparação do pastel. No Faial a memória da cultura do pastel é perpetuada na designação do lugar do Pasteleiro, arredores da cidade da Horta.

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